5/08/2012

Reflexões Sobre Alfabetização


Emilia Beatriz María Ferreiro Schavi (Argentina, 1936) é uma psicóloga e pedagoga argentina, radicada no México, doutora pela Universidade de Genebra, sob a orientação de Jean Piaget.
Em 1970 depois de se formar em psicologia pela Universidade de Buenos Aires, estuda na Universidade de Genebra, onde trabalha como pesquisadora-assistente de Jean Piaget e obtém o seu PhD sob a orientação do psicopedagogo suiço. Retorna a Buenos Aires, em 1971. Forma um grupo de pesquisa sobre alfabetização e publica sua tese de doutorado - Les relations temporelles dans le langage de l'enfant. No ano seguinte, recebe uma bolsa da Fundação Guggenheim (EUA). Em 1974 afasta-se de suas funções docentes na Universidade de Buenos Aires.
Em 1977, após o golpe de Estado na Argentina passa a viver em exílio na Suíça, lecionando na Universidade de Genebra. Inicia com Margarita Gómez Palacio uma pesquisa em Monterrey (México) com crianças que apresentam dificuldade de aprendizagem. Em 1979 passa a residir no México com o marido, o físico e epistemólogo Rolando García, com quem teve dois filhos.
Atualmente é Professora Titular do Centro de Investigação e Estudos Avançados do Instituto Politécnico Nacional, na Cidade do México

O Livro: Reflexões Sobre Alfabetização
Emília Ferreiro descobriu e descreveu a “psicogênese da língua escrita” e abriu espaço para um novo tipo de pesquisa em pedagogia. Ela desloca a investigação do “como se ensina” para “o que se aprende”. O processo de alfabetização nada tem de mecânico do ponto de vista da criança que aprende. A criança constrói seu sistema interpretativo, pensa, raciocina e investiga buscando compreender esse objeto social complexo que é a escrita. Essa mudança conceitual sobre a alfabetização acaba levando mudanças profundas na própria estrutura escolar.
Neste volume estão reunidos quatro trabalhos reunidos em momentos diferentes, porém dentro da mesma linha de preocupação: contribuir para uma reflexão sobre a intervenção educativa alfabetizadora a partir dos novos dados oriundos das investigações sobre a escrita da criança.

O livro demonstra como o objeto de conhecimento intervém no processo de aprendizagem, não como entidade única, mas somadas a “quem ensina e quem aprende”. Para que as crianças possam se servir dos elementos de compreensão do processo de construção e suas regras de produção, a escrita é concebida como um sistema de representação, sua aprendizagem se converte na apropriação de um novo objeto de conhecimento, ou seja, em uma aprendizagem conceitual.

Ao pensarmos que as crianças são seres que ignoram que devem pedir permissão para a aprender...

Ao aceitarmos que  criança não é uma tabula rasa onde se escrevem as letras e as palavras segundo determinados métodos...

Se aceitarmos que o “fácil” e o “difícil” não podem ser definidos a partir da perspectiva do adulto, mas da de quem aprende...

Ao perguntarmos que tipo de prática submetemos as crianças a pensarem que o conhecimento é algo que os outros possuem e lhe é transmitido através da boca...

Ao desmistificarmos que o que existe para se conhecer, já foi estabelecido, como um conjunto de coisas fechado, sagrado e imutável e não modificável...

Se tirarmos a criança como mero espectador passivo ou receptor mecânico, e dar-lhe a voz...

Ao pararmos com autoritarismo de fazer exclusivamente em casa, o mesmo que se faz na escola, de modo a não criar conflitos no processo aprendizagem...

Ao aceitarmos que a criança convive com mais letras fora da escola do que dentro e que fora são convidadas à produção e interpretação e dentro são forçadas à cópia e a reprodução...

Ao pararmos de reduzir a criança a um par de olhos, um par de ouvidos, uma mão que pega um instrumento para marcar e um aparelho fonador que emite sons...

Teríamos a visão que, por traz de tudo isso há um sujeito cognoscente, alguém que pensa, que constrói interpretações, que age sobre o real para fazê-lo o seu. Talvez começamos a aceitar que podem saber, embora não tenha sido dada a elas a autorização institucional para tanto.

Em alguns momentos da história faz falta uma revolução conceitual. Emília Ferreiro acredita ter chegado o momento de fazê-la a respeito da alfabetização.

Este livro contribuiu bastante no meu processo de aprendizagem, diante das reflexões de Emília Ferreiro pude chegar mais perto das propostas contemporâneas da educação e refletir o quanto essa se distancia da pedagogia aplicada no meu tempo de escola.

Como educador e pesquisador de processos de aprendizagem, posso concluir que foi de grande importância comungar de pensamentos favoráveis sobre o ser humano no processo de construção de conhecimento e que esta não se dá, somente através de codificações.

Entender os processos analíticos das pesquisas de Emílio Ferreiro abriu algumas portas para o entendimento de como a arte possa contribuir para os processos cognitivos principalmente nas salas de alfabetização.

Bibliografia



FERREIRA, E. Reflexões sobre alfabetização: 6 questões da nossa época. São Paulo: Córtez, 2010.